quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Convite





Não me interessa saber
como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja
e se ousa sonhar em satisfazer
os anseios do seu coração.

Não me interessa saber
a sua idade.
Quero saber se você
correria risco de parecer tolo
por amor, pelo seu sonho,
pela aventura de estar vivo.

O que eu quero saber
é se você já foi até o fundo
de sua própria tristeza,
se as traições da vida
o enriqueceram ou se você se retraiu
e se fechou, com medo de mais dor.

Quero saber
se você consegue conviver
com a dor, a minha ou a sua,
sem tentar escondê-la,
disfarçá-la, remediá-la.

Quero saber se você
é capaz de conviver com a alegria,
a minha ou a sua,
de dançar com total abandono
e deixar o êxtase penetrar até a ponta
dos seus dedos...
... sem nos advertir
que sejamos cuidadosos,
que sejamos realistas,
que nos lembremos das limitações
da condição humana.

Não me interessa saber
se a história que você me conta é verdadeira.
Quero saber se é capaz
de desapontar o outro
para se manter fiel a si mesmo.

Se é capaz de suportar
uma acusação de traição
e não trair sua própria alma,
ou ser infiel e, mesmo assim,
ser digno de confiança.

Quero saber se você
consegue viver com o fracasso,
o seu e o meu,
e ainda assim pôr-se de pé
na beira do lago e gritar
para o reflexo prateado
da lua cheia:
Sim !

Não me interessa saber
onde você mora ou quanto dinheiro tem.
Quero saber se, após uma noite de tristeza
e desespero, exausto e ferido até os ossos,
é capaz de fazer o que precisa ser feito
para alimentar seus filhos.

Não me interessa o que você conhece
ou como chegou até aqui.
Quero saber se vai permanecer
no centro do fogo comigo sem recuar.

Não me interessa onde, o que
ou com quem estudou.
Quero saber o que sustenta,
no seu íntimo, quando tudo mais
desmorona.

Quero saber se você é capaz de ficar só
consigo mesmo
e se nos momentos vazios
realmente gosta de sua companhia.

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